A NBA Draft 2024 entrou para a história como a primeira edição da liga a se estender por dois dias, encerrando-se em 27 de junho com uma escolha que promete reescrever o futuro do basquete mundial: o francês Zaccharie Risacher, de 19 anos, foi selecionado em primeiro lugar pelos Atlanta Hawks. Mas o verdadeiro choque veio na segunda rodada — o filho de LeBron James, Bronny James, de 19, foi escolhido em 55º lugar pelos Los Angeles Lakers, tornando-se o primeiro jogador da história a ser draftado com a expectativa de jogar ao lado do próprio pai. A cerimônia, dividida entre o Barclays Center em Brooklyn e os estúdios da ESPN no Distrito Seaport de Manhattan, marcou um novo padrão para o evento, com intervalos entre as escolhas da segunda rodada ampliados de dois para quatro minutos.
Um novo império francês no basquete
Se a escolha de Risacher já era esperada, a explosão de talento francês no topo do draft foi surpreendente. Além dele, Alex Sarr (2º lugar, Washington Wizards) e Tidjane Salaün (6º lugar, Charlotte Hornets) completaram um trio histórico — a França se tornou o segundo país, depois dos Estados Unidos, a ter três jogadores entre os dez primeiros de uma draft. E pela primeira vez, dois franceses foram escolhidos como os dois primeiros selecionados da noite. Isso não é acaso. A estrutura de desenvolvimento de basquete na França, impulsionada pela liga profissional LNB e pela academia INSEP, agora produz jogadores com físico, técnica e inteligência tática que rivalizam com os melhores dos EUA. Victor Wembanyama, escolhido nº 1 em 2023, abriu a porta. Risacher, Sarr e Salaün a derrubaram.
Bronny James: o peso da história
Enquanto o mundo discutia o futuro de Risacher, os olhos estavam fixos em Bronny James. Seu nome foi chamado — e o estádio explodiu. Não por ser um prospecto de elite, mas por ser filho de um dos maiores atletas de todos os tempos. Ele não foi escolhido por sua projeção de estrela, mas por sua resiliência: após sofrer um parada cardíaca durante um jogo universitário em dezembro de 2023, passou meses em recuperação e voltou aos quadros com uma determinação rara. Os Lakers, sob a liderança do presidente de basquete Rob Pelinka, não escolheram por sentimentalismo. Escolheram por valor. Bronny é um defensor ágil, com visão de jogo e espírito competitivo. Ainda que não seja um jogador de alto volume, ele pode se tornar um peça-chave no banco, especialmente em sistemas que valorizam movimento e defesa. A possibilidade de ele e LeBron jogarem juntos — mesmo que por poucos minutos por jogo — é algo que a NBA nunca viu. E isso muda tudo.
As escolhas que impressionaram — e as que deixaram dúvidas
Na primeira rodada, o Boston Celtics surpreendeu ao selecionar Baylor Scheierman, de 24 anos, em 30º lugar. Analistas da CBS Sports, como Adam Finkelstein, deram nota A- ao movimento: "Scheierman é o tipo de jogador que se encaixa perfeitamente ao lado de Tatum e Brown. Ele enche o corredor, rebota e dispara de três — exatamente o que falta no elenco atual." Já o Golden State Warriors escolheram Quinten Post, de 23, em 52º. O centro de 2,13m, que acertou 39% dos arremessos de três pontos na faculdade, foi avaliado como C+ por Kyle Boone: "Ele pode ser útil como rolo de rebote e tiro de canto. Mas se for forçado a defender em espaço aberto, vai sofrer. É um risco calculado."
Outro destaque foi o Memphis Grizzlies, que, por meio de um trade com o Detroit Pistons, garantiu Cam Spencer, armador de 23 anos da UConn, em 53º. Um jogador com inteligência tática e capacidade de criar jogadas em transição — exatamente o que Memphis precisa para apoiar Ja Morant.
Por que faltam dois picks?
A draft teve apenas 58 escolhas, em vez das tradicionais 60. Isso porque os Philadelphia 76ers e os Phoenix Suns perderam suas seleções da segunda rodada por violar as regras de tampering durante o período de livre-agente. Foi a terceira vez consecutiva que isso acontece — um sinal de que a liga está endurecendo o controle sobre contratações ilegais. O que antes era um “pequeno deslize” agora tem consequências reais. E isso muda a dinâmica do mercado.
O que vem a seguir?
Os novos draftados terão até o final de setembro para se apresentar às equipes e entrar nos treinos de pré-temporada. Bronny James deve começar na G League para ganhar ritmo, mas a expectativa é que ele entre em quadra na temporada 2024-25, que começa em outubro. Para a França, o futuro é brilhante — e já está aqui. Risacher e Sarr podem ser os próximos All-Stars internacionais. E para os Lakers? O peso da expectativa é imenso. Mas se Bronny conseguir se manter saudável e desenvolver sua defesa, ele pode se tornar mais do que um símbolo. Pode se tornar um jogador.
Frequently Asked Questions
Como a França se tornou tão forte no basquete internacional?
A França investiu pesado em academias de base, especialmente na INSEP, centro de alto rendimento em Paris, e na liga profissional LNB. Jogadores são treinados desde os 12 anos em tática, física e inteligência de jogo, com foco em versatilidade. O sucesso de Wembanyama e agora Risacher, Sarr e Salaün mostra que o modelo está funcionando — e a NBA está prestando atenção.
Bronny James tem potencial para ser um jogador regular da NBA?
Sim, mas não como estrela. Ele é um defensor ágil, com boa visão e espírito competitivo. Seu valor está em ser um jogador de banco que pode marcar oponentes rápidos, correr em transição e manter o ritmo. Sua saúde cardíaca é o principal fator. Se se manter firme, pode se tornar um jogador confiável em 15-20 minutos por jogo — algo que os Lakers precisam.
Por que a NBA mudou o formato da draft para dois dias?
A mudança foi feita para aumentar o entretenimento e a cobertura midiática. O primeiro dia atraiu milhões de espectadores com as escolhas da primeira rodada, enquanto o segundo dia permitiu uma análise mais profunda das escolhas da segunda rodada, com comentários especializados e entrevistas em tempo real. O resultado? Mais engajamento, mais publicidade e mais valor comercial para a liga.
Quais são os riscos para os times que escolheram jogadores mais velhos, como Baylor Scheierman?
Jogadores com 24 anos ou mais já estão em estágio avançado de desenvolvimento, o que reduz o potencial de crescimento. Mas aumenta a segurança: eles já demonstraram desempenho em alto nível. Scheierman é um exemplo: ele não é um prospecto de futuro, mas um jogador pronto para contribuir imediatamente — o que pode ser mais valioso do que um jovem com alto potencial, mas incerto.
O que a perda de picks por tampering diz sobre a NBA hoje?
A liga está mais rígida. Antes, violações eram punidas com multas ou escolhas futuras menores. Agora, perda de picks é uma penalidade direta e significativa — e isso afeta a construção de elencos. Isso desencoraja equipes a tentar contratar jogadores ilegalmente, protegendo a integridade do mercado e garantindo que o talento seja adquirido de forma justa.
Qual é o impacto de ter três franceses no top 10 para o basquete global?
É um sinal claro de que o basquete não é mais um domínio americano. A França está provando que pode produzir elite global, não apenas talentos. Isso inspira outras nações europeias e africanas a investirem mais em infraestrutura. A NBA, por sua vez, terá que adaptar sua estratégia de escuta — já que os melhores jogadores não virão mais só dos EUA.